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O seu vinho favorito poderá ter um sabor diferente amanhã e a culpa é das alterações climáticas
É um tema que se tornou mais frequente entre os fornecedores do “Mind the Glass”, à medida que marcas consolidadas e novos produtores de vinho procuram adaptar-se às mudanças climáticas para garantir ciclos mais estáveis de produção agrícola. A preocupação já afeta a maior parte dos produtores do Mediterrâneo, onde temperaturas mais altas e períodos recorrentes de seca ameaçam vinhas como as de Bordéus, obrigando a introduzir castas secundárias na produção local.
As preocupações com a sustentabilidade ambiental nem sempre parecem afetar o consumidor de vinho, de tanto que o senso-comum associa o produto a um cultivo agrícola renovável e a embalagens em materiais recicláveis como o vidro e a cortiça, mas o facto é que a pegada carbónica da humanidade, ao influenciar na camada de ozono e no aquecimento global, tem efeitos bem concretos na qualidade das vinhas.
Considerando que 80% do mercado depende de apenas 12 castas, é prioritário encontrar as mais adequadas temperaturas cada vez mais elevadas. Mas a inconstância atual do clima não afeta apenas o fruto e há dois outros aspetos que são exemplo suficiente para ilustrar o problema: um é a subida do nível do mar, que impregna os solos costeiros de maior salinidade e assim prejudica as vinhas, aumentando o risco de proliferação de pragas e doenças; outro é a menor ocorrência de geadas, porque há zonas agrícolas que dependem delas para matar depósitos de larvas no solo e assim reduzir a ocorrência de pragas nos períodos mais quentes do ano.
Na região francesa de Bordéus, que se tem tornado um case-study de adaptação climática no contexto vínico, o aumento das temperaturas já resultou em legislação que permite aos produtores de vinho complementarem as uvas premium com “castas acessórias” – nomeadamente espécies ‘não-Bordeaux’ – adaptadas a climas mais quentes e secos. O recurso a essas uvas ainda só é autorizado em determinados tipos de vinho, mas já constitui uma cedência destinada a evitar colapsos como o que se antecipa para o Norte de África, onde o calor extremo está a causar a morte prematura de oliveiras e a provocar significativas perdas aos fabricantes de azeite.
Procurar terrenos em zonas mais frescas e favoráveis deixou, portanto, de ser um capricho de expansão, para se tornar um custo de manutenção: os produtores têm que procurar novos lotes de terra onde possam plantar já as castas mais adequadas às suas marcas, assumindo essa estratégia como um investimento vital para os próximos 10 a 20 anos de atividade.
Também para o vinho se quer mais água
Essas mudanças não são alheias aos dois principais efeitos das alterações climáticas nos lençóis freáticos e no abastecimento artificial de água. O primeiro é o problema imediato da escassez de água, que inibe o devido crescimento das vinhas, sejam elas destinadas à produção de tipologias ditas normais ou ao fabrico de vinhos biológicos e vinhos vegan. A carência de água é um dos motivos, aliás, que vem levando os produtores a procurarem novos terrenos no litoral ou em zonas mais montanhosas, já que, numa localização ou na outra, os índices de humidade serão sempre superiores aos registados no interior.
A outra dificuldade prende-se com a temperatura da água, qualquer que seja o seu grau de abundância ou a altitude a que se encontre a respetiva vinha, porque, no geral, a exposição prolongada a uma rega mais quente também contribui – tal como o clima escaldante – para vinhos mais doces e com maior percentagem de álcool. Isso deve-se ao facto de a temperatura acelerar o amadurecimento das uvas, o que afeta o teor de açúcar, a acidez e o nível de taninos do respetivo vinho, comprometendo assim a sua complexidade e qualidade.
Consumidores familiarizados com a Sauvignon Blanc produzido na região de Marlborough, na Nova Zelândia, por exemplo, já notam que o seu anterior travo amargo, a lembrar limão e groselha, mudou entretanto, devido ao aumento da temperatura na região, para um perfil mais suave, a evocar abacaxi e limão.
Pode um Chianti autêntico não ser da Toscana?
Em Itália já há quem defenda a necessidade de o Chianti passar a usar uvas cultivadas noutras regiões do país porque as alterações climáticas estão a provocar colheitas mais reduzidas e as previsões indicam que esse vinho da Toscana e outros congéneres do sul irão tornar-se cada vez mais raros ao longo da próxima década.
Qualquer mudança na composição do Chianti dependerá, contudo, de alterações à presente legislação europeia nessa matéria, já que os vinhos de regiões demarcadas só podem usar a respetiva denominação se cumprirem as regras e os ingredientes estabelecidos. Mas considerando que leis internacionais envolvem processos de concertação demorados, a introdução de castas exteriores poderá não ser autorizada a tempo de evitar uma interrupção no stock de Chiantis.
Saborear o certo hoje, contando com a mudança amanhã
Diz a sabedoria popular que se deve viver cada dia como se fosse o último e, atendendo às alterações climáticas e a outros flagelos sociais da atualidade, o conselho torna-se cada vez mais justificado e não é exceção no que se refere à prova de vinhos. A alargada oferta do “Mind the Glass” é, nesse contexto, particularmente propícia a experiências informadas, à descoberta sabores, de novas colheitas e castas, e à comparação entre diferentes colheitas e terroirs.
A ciência está a seguir o efeito do aquecimento global na indústria do vinho, mas não consegue acompanhar o ritmo dessas mudanças ambientais e daí a premência empírica do palato: determinado sabor hoje pode ser apenas uma memória amanhã e o registo dessa diferença não é uma questão frívola nem superficial. A extraordinária sensibilidade das vinhas e da uva faz do setor do vinho um sistema especialmente adequado à deteção precoce dos efeitos que as alterações climáticas continuarão a ter na generalidade da produção alimentar mundial – e, por consequência, na sobrevivência e estilo de vida da humanidade.